— Só
quero que tudo fique bem.
Concordo
com a cabeça. Se tem uma coisa que aprendi, é isso: todos nós queremos que tudo
fique bem. Nem mesmo desejamos que as coisas sejam fantásticas, maravilhosas ou
extraordinárias. Satisfeitos, aceitamos o bem, porque, na maior parte do tempo,
bem é o suficiente.
O passado não me ofusca, nem o futuro me motiva.
Concentro-me no presente, porque é nele que estou destinado a viver.
Simples e complicado, como a maior parte das coisas
verdadeiras.
Observamos as árvores, o céu, as placas, a estrada. Sentimos um ao outro. O mundo, nesse exato
instante, consiste em apenas nós dois.
Continuamos a cantar. E cantamos com o mesmo
abandono, sem nos preocuparmos muito se nossas vozes atingem as notas ou as palavras
certas. Trocamos olhares enquanto cantamos; não são dois solos, é um dueto que não se leva
muito a sério. É uma forma própria de conversa. Você pode aprender muito sobre as pessoas
a partir das histórias que contam, mas também pode conhecê-las pelo modo como cantam, não
importando se gostam de janelas levantadas ou abaixadas, se vivem de acordo com o
mapa ou se perdem-se pelo mundo, ou se sentem a atração do mar.
Eles não têm silêncios juntos; têm ruídos.
Que história é essa sobre o instante em que você se
apaixona? Como uma medida tão pequena de tempo pode conter algo tão grande? De repente,
percebo por que as pessoas acreditam em déjà vu, por que acreditam em vidas passadas; porque não
há meio de fazer com que os anos que passei na Terra sejam capazes de resumir o que
estou sentindo. O momento em que você se apaixona parece carregar séculos, gerações atrás
de si — tudo isso se reorganizando para que essa interseção precisa e incomum possa
acontecer. Em seu coração, em seus ossos, por mais bobo que saiba que é, você sente que tudo
levou a isso, que todas as flechas secretas estavam apontando para este lugar, que o universo e
o próprio tempo construíram isso muito tempo atrás, e agora você acaba de perceber que
chegou ao local onde sempre deveria ter estado.
É isso que o amor faz: que você queira reescrever o
mundo. Que você queira escolher os
personagens, construir o cenário, dirigir o
roteiro. A pessoa que você ama senta de frente para você, e você quer fazer tudo que estiver ao alcance
para tornar isso possível, infinitamente possível. E quando são apenas vocês dois a sós numa
sala, você pode fingir que é assim que as coisas são, que é assim que serão.
Sempre haverá mais perguntas. Toda resposta leva a
mais perguntas.
O único meio de sobreviver é abrindo mão de
algumas.