quinta-feira, 12 de maio de 2016

Vidas Secas - Graciliano Ramos


Aparecera como um bicho, entocara-se como um bicho, mas criara raízes, estava plantado.
Engano. A sina dele era correr mundo, andar para cima e para baixo, a toa, como judeu errante. Um vagabundo empurrado pela seca. Achava-se ali de passagem, era hospede. Sim senhor, hospede que demorava demais, tomava amizade a casa, ao curral, ao chiqueiro das cabras, ao juazeiro que os tinha abrigado uma noite.

Fabiano dava-se bem com a ignorância. Tinha o direito de saber? Tinha? Não tinha.
- Esta ai.
Se aprendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito.

Seu Tomas da bolandeira falava bem, estragava os olhos em cima de jornais e livros, mas não sabia mandar: pedia.  Esquisitice um homem remediado ser cortes. Ate o povo censurava aquelas maneiras. Mas todos obedeciam a ele.

Não queria morrer. Ainda tencionava correr mundo, ver terras, conhecer gente importante (...). Era uma sorte ruim, mas desejava brigar com ela, sentir-se com forca para brigar com ela e vence-la.

Havia muitas coisas. Ele não podia explica-las, mas havia.

Agora Fabiano conseguia arranjar as ideias. O que o segurava era a família.

Mas iam vivendo, na graça de Deus, o patrão
confiava neles - e eram quase felizes. Só faltava uma cama.

Aquele homem era assim mesmo, tinha o coração perto da
goela.

único vivente que o compreendia era a mulher. Nem
precisava falar : bastavam os gestos.

Recordou-se de lutas antigas, em danças com fêmea e cachaça.
Uma vez, de lambedeira em punho, espalhara a negrada. Ai
Sinha Vitoria começara a gostar dele. Sempre fora reimoso.
Iria esfriando com a idade? Quantos anos teria? Ignorava, mas
certamente envelhecia e fraquejava. Se possuísse espelhos,
veria rugas e cabelos brancos. Arruinado, um caco. Não

sentira a transformação, mas estava-se acabando.

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