sexta-feira, 22 de abril de 2016

CRIME E CASTIGO - FIODOR DOSTOIEVSKI

Mas só divago, e por divagar tanto que não faço nada.
Gostaria de saber que é que a gente mais receia. Estou propenso a crer que mais tememos o que nos tira de nossos hábitos.
As coisas mais insignificantes têm, as vezes, maior importância e é geralmente por isso que a gente se perde.

Às vezes dão-se encontros, até com pessoas totalmente desconhecidas, que
despertam o nosso interesse logo ao primeiro olhar, assim, de repente, de improviso, antes de se ter trocado uma só palavra.

Adeus, vida! Contanto que os nossos entes queridos sejam felizes!

Sombras e fragmentos de algo semelhante a idéias lhe atravessavam a mente; mas
não pôde apreender nem uma única, nem uma só pôde deter, por mais esforços que
fizesse...

No vinho reside a verdade e sob a influencia do vinho revelara ele os baixos sentimentos de um coração grosseiramente ciumento.

Se ele tivesse de passar a vida sobre um rochedo perdido na imensidade do mar, que lhe oferecesse apenas o espaço suficiente para firmar os pés, se tivesse de viver assim mil anos, sobre o espaço de um pé quadrado, na solidão, na reva, exporto a todas as intempéries – preferiria tal existência à morte! Viver, seja como for, mas viver!

O homem é covarde, e também é covarde o que covarde o chama.


Eu não matei nenhuma pessoa humana; apenas matei um princípio. Um princípio, foi o que eu
matei;

Não; a mim dão-me uma só vida e não terei outra; eu não quero esperar pela felicidade universal. Eu quero viver, eu, senão mais vale não viver.

O sofrimento acompanha sempre uma inteligência elevada e um coração profundo.

Aquele que tem consciência sofre reconhecendo seu erro.

Raskólhnikov compreendeu claramente que aquele homem estava firmemente decidido a
qualquer coisa e que saberia consegui-la.

 A natureza é um espelho, um espelho, e o
mais transparente! Olhe para ele e veja-se, é assim mesmo!

"Pois se eu vejo a estupidez dos outros, por que não procuro ser
mais inteligente do que os outros?"

Uma tristeza especial se apoderara
dele nos últimos tempos. Não tinha nada de especialmente agudo ou azedo; mas emanava
dele algo de constante, de eterno; fazia pressentir anos sem refúgio, dessa dor fria, mortal;
fazia pressentir toda uma eternidade num espaço de um archin. Essa sensação costumava
afligi-lo com mais força ao cair da tarde.

A preocupação da estética é
o primeiro sinal da impotência!

Sofrer e chorar – ainda é viver!

Por que há de temer tanto a mudança da situação? É do bem-estar que um coração como o seu pode ter pena? Aflige-se com a idéia de estar por muito tempo na obscuridade? Mas do senhor depende que essa obscuridade não seja eterna. Faça-se um sol e todos o verão.

No princípio da sua felicidade, houve alguns momentos em que
tinham estado dispostos a considerar aqueles sete anos como sete dias. Ele nem sequer
sabia que a vida nova não lhe seria dada gratuitamente, mas que ainda teria de comprá-la
caro, pagar por ela uma grande façanha futura...

Mas aqui começa já uma nova história, a história da gradual renovação de um
homem, a história do seu trânsito progressivo dum mundo para outro, do seu contato com
outra realidade nova, completamente ignorada até ali. Isto poderia constituir o tema duma

nova narrativa... mas a nossa presente narrativa termina aqui.

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